Sou afeita ao novo. Gosto da ideia de renovação, de desapego. Desconfio que a minha existência é calcada no ato de me desfazer. De mim, das situações, dos outros. Não sou desapegada. Pelo contrário, apego-me tanto aos outros, aos meus, que os coloco em uma dimensão surrealista que só tem significado pra mim. Não pra eles. É aí que o processo de desfazer se inicia.
Pego a mesma caixa de costura de outrora, a agulha que serviu para alinhavar pontos certeiros, os botões que fecharam casas no intuito de defender do mal, os laçarotes postos milimetricamente para enfeitar, a tesoura que aparou os defeitos. Eu tenho apego a tesouras. Acredito ser uma das ferramentas mais bonitas e necessárias do mundo. As tesouras lembram corações. Grandes, pequenos, invisíveis. Sempre que eu sinto que é hora de renovar, de desfazer e, obviamente de refazer penso numa tesoura. Dourada, grande, afiada. Sem pensar muito vou cortando delicadamente o que deixou de servir. Deixo tudo no baú. Se não serve para o presente ao menos para formar colchas de retalhos do passado deve servir.
Mel