- Toma, isso é pra você.
- Pra mim?
- É, pra você mesmo. Pegue, se quiser.
- Tem certeza?
- Claro! Pegue. É seu.
- Mas eu...
- Que foi? Não quer?
- Eu não sei. Pode ser.
- Hum...
- (silêncio)
- Por que me dar isso?
- Porque eu quero, ué.
- (silêncio)
- Tudo bem, relaxa. Não tem grilo. "Pode ser" é muita coisa. Uma infinidade de coisas, aliás. Deve existir generosidade nisso. Ou não.
- Hum...Eu posso ver?
- Pode ser.
- Você está devolvendo o que eu disse?
- Tô devolvendo o que é seu. Não é seu? Minha mãe sempre disse para não ficar com o que não era meu. Então.
- Mas você disse que "pode ser" é uma infinidade de coisas. Não me pareceu ruim. Aliás, não me parece ruim para ninguém.
- Sim, eu disse. E repito. Mas veja bem, eu quero apenas uma coisa. Olha que simples! Porém,estamos em desequilíbrio de oferta. Entenda, seu "pode ser" deve ser muita coisa, mas não pra mim. Seu muito pra mim é pouco. Seu "pode ser" pra mim são dois grãos de areia em um copo d'água. Dois centímetros da régua. A matemática alerta: trata-se de uma equação complexa. Odeio matemática.
- Calma, não precisa ser assim também.
- Que nada, relaxa. A gente só pode dar o que tem. Guarda bem o "pode ser", tá? Vai servir. Nossa, lembrei de Trigonometria.
- Você tá indo embora?
- Estou. Preciso resolver umas coisas.
- A gente ainda se vê?
- Ah, sim. Pode ser.
- Você tá fazendo de novo...
- Qual é o quadrado da hipotenusa?
- Fala sério, por favor.
- Lembrei! A soma do quadrado dos catetos!
- Heim? O que isso tem a ver?
- Eu sou soma e multiplicação. Você é apenas subtração.
- Isso não é verdade. Você está viajando.
- Prove o contrário. Pegue lápis e papel e me convença.
- Eu odeio matemática.
- Pois é, eu também. Prefiro Humanas. Vou indo. Aquele abraço!
- Prove o contrário. Pegue lápis e papel e me convença.
- Eu odeio matemática.
- Pois é, eu também. Prefiro Humanas. Vou indo. Aquele abraço!