sábado, 19 de novembro de 2016

Distante é melhor que perto.

Eu tinha prometido não escrever mais nenhuma linha relacionada a você.
Tinha prometido não alimentar nenhum pensamento, não ruminar o não feito.
Eu planejei com muita vontade esquecer. Mas aí...Não diria que falhei, que fui uma completa idiota. Não chega a tanto. 
Você me pegou de surpresa as 07:56 da manhã com uma mensagem idiota, meio pretexto para puxar papo, meio nada com nada, coisa pouca. Bem seu jeito. Eu deixei. E lá ficamos durante o dia todo falando sobre várias coisas e nada ao mesmo tempo. Essa intimidade que ainda existe entre nós me deixa agoniada. Você entra sem bater na porta e eu não te coloco pra fora. Eu até mesmo te ofereço um café, meu sofá, minhas almofadas.
Você fica. Mas como sempre, você fica no seu tempo. Do seu jeito. Depois vai embora sem dar tchau. Eu já vivi essas cenas tantas vezes que fico sem saber por que diabos ela está acontecendo de novo. Que espécie de trilogia de terror é essa, que carma, que inferno. Que nada. A verdade é que não tem nada demais e eu sei que não. Eu vejo lucidamente que não, mas como eu ia dizendo, você entra na minha casa, se esparrama no sofá, pede uma cerveja, tira a camisa, joga as almofadas no chão. Você bagunça. É isso. Você provoca uma bagunça. E, cá pra nós, eu suspeito que você sabe de tudo isso, mas sadicamente se diverte. Como sempre. 
Quando dei por mim já fazia dois dias que você estava por aqui. Dois dias. Onde eu estava com a cabeça quando permiti? Dois dias trocando mensagens que, porra, não mudam nada em nossas vidas. Nada. Eu não estava interessada em saber dos seus planos, mas deixei que me contasse. Não estava interessada em me envolver nas suas questões, mas fiquei preocupada. Não queria alinhavar os fios soltos dessa sua forma de ser para tentar te entender. Você faz questão de soltar os fios para usá-los como tentáculos. É o seu charme, seu jogo. Mas hoje isso não serve mais pra nada. Não somos mais nada. Esforço em vão. Cansei antes de começar. Repeti várias vezes para mim mesma: isso não quer dizer nada.  Porque não era. Porque não foi. Porque não é. 
Quando finalmente você decidiu ir eu senti um alívio imenso. Eu diria tudo isso olhando no fundo dos seus olhos. Cara, como foi bom quando você foi embora sem dar tchau. Eu te agradeço. A última mensagem já prenunciava o tchau silencioso. Eu te conheço bem. E, pela primeira vez, fiquei feliz quando notei os sinais da sua partida.  É que eu queria muito que você fosse embora. 
Você me deixou uma ressaca imensa, uma bagunça desgraçada que se avolumou devido ao estado de espírito em que você me encontrou. Tpm, lua cheia, vida corrida, mudanças, trabalho, várias informações ao mesmo tempo. Você me fez parar na frente do espelho e colocar as duas mãos na cabeça, como se fosse possível parar o redemoinho existente na minha mente. Você trouxe de volta aquele misto estranho de sentimentos que eu sentia quando estivemos juntos. Não foi bom. Eu não sinto a menor saudade disso. 
Mas você foi embora e eu respiro aliviada. Leve. Preciso te dizer que hoje, quando ainda arrumo a bagunça, ajeito os livros na estante, jogo fora as bitucas de cigarro e mudo os lençóis da cama, o que fica é a certeza de que não é mesmo para ser você. Não há razão de ser. Não é para ser você e poxa, que bom que não. Que alívio constatar que não. Não é você, meu bem. Quanto levou para eu ratificar isso. Não é você porque hoje eu sou mais eu. Não é você porque foi necessário o seu breve retorno para eu perceber que nessa história distante é melhor que perto.