Mal sabes o quanto me custou ter coragem para escrever-te essa carta. Me percorria a mente a possibilidade de você não receber bem o que eu tenho a lhe dizer. Me angustiava imaginar você naquele cantinho do seu quarto recolhida e chorosa após ler as minhas "verdades". Eu não quero magoar você,mas também não vou lhe dar flores. Preciso lhe dizer algumas coisas. Respire fundo, beba alguns goles do chá de erva cidreira que tem lhe acompanhado esses dias e leia com atenção.
Você não é tão forte quanto parece ou gostaria de ser. Não é, meu bem. Simplesmente, não é. Aliás, você é de uma fragilidade imensa. Nós dois sabemos que basta uma palavra torta em um dia nublado para você se desestabilizar. Quase um bibelô. Calma, eu não estou dizendo que você não é forte. Apenas quero que entenda que em alguns momentos você vai e deve desabar. Todo mundo passa por isso, querida. Você também. Quando desabamos o mundo imediatamente gira. As coisas saem do lugar, o comum se desequilibra e pronto. O universo abre brechas com várias possibilidades. Podemos ficar na mesma, ou dar fim no entulho do desabamento e recomeçar com casa limpa. Não é você que gosta do novo? Desabe, Mel. Desabe. Você não é a mulher maravilha. Desista. Um saco isso.
Não entendo essa sua mania de querer dar o que não tem. Por que se cobrar tanto? Por que achar que precisa sempre fazer o melhor? Por que se preocupar desmedidamente com as pessoas? Relaxe. Seja o que der. Faça o que puder. Sim, faça bem feito. Mas não pense, nem queira fazer além das suas possibilidades. Preocupe-se, mas não esqueça de você. Você acha mesmo que todas as pessoas da sua convivência se preocupam com você da mesma forma? Que tola. Você tem duas possibilidades: permanece se preocupando, se doando e esperando que devolvam o mesmo para você. Ou, permanece se preocupando, mas vivendo independente de um sorriso que as pessoas podem ou não te dar. Faça e seja por vontade. Por sua vontade, viu? E deixe que os outros façam e sejam o que quiserem, inclusive nada.
Você já se acha uma mulher, não é mesmo? Se acha madura o suficiente, coisa e tal. Desculpe, mas você está longe de ser, viu? Bem longe. Faltam muitos pratos de feijão com arroz para que você seja essa coisa toda.Tá, eu sei que você é bem madura para sua idade e principalmente para seu contexto, mas não é a mais sabidinha, a mais consciente, a mais centrada. Você não é a Sandy, minha filha. Você não é, nem nunca será uma menininha tocadora de piano, que usa meias brancas com bordados rosa bebê. Você é a moça que pinta os olhos de preto e que acha bonito o efeito do rímel escorrendo no rosto depois de um choro. Você é saia rodada e pé no chão. Você não é música clássica. Nunca será. Você é conhaque com mel e limão. Não se comporte como a Sandy. Não me envergonhe. Você não só pode, como deve errar. Várias vezes. Erre muito e assuma. Erre e aprenda. Depois esqueça. Você pode ser o que quiser, mas você não deve se julgar pelo que foi ou fez de acordo com sua vontade. Esqueça o passado. Relaxe quanto ao futuro. Se esbalde no presente. Continue usando rímel e delineador. E chore, quando for necessário. No seu quarto, viu?
Você já se acha uma mulher, não é mesmo? Se acha madura o suficiente, coisa e tal. Desculpe, mas você está longe de ser, viu? Bem longe. Faltam muitos pratos de feijão com arroz para que você seja essa coisa toda.Tá, eu sei que você é bem madura para sua idade e principalmente para seu contexto, mas não é a mais sabidinha, a mais consciente, a mais centrada. Você não é a Sandy, minha filha. Você não é, nem nunca será uma menininha tocadora de piano, que usa meias brancas com bordados rosa bebê. Você é a moça que pinta os olhos de preto e que acha bonito o efeito do rímel escorrendo no rosto depois de um choro. Você é saia rodada e pé no chão. Você não é música clássica. Nunca será. Você é conhaque com mel e limão. Não se comporte como a Sandy. Não me envergonhe. Você não só pode, como deve errar. Várias vezes. Erre muito e assuma. Erre e aprenda. Depois esqueça. Você pode ser o que quiser, mas você não deve se julgar pelo que foi ou fez de acordo com sua vontade. Esqueça o passado. Relaxe quanto ao futuro. Se esbalde no presente. Continue usando rímel e delineador. E chore, quando for necessário. No seu quarto, viu?
O mundo é feito de pessoas superficiais e outras intensas. Você faz parte do último grupo e eu sei o quanto isso lhe dói. Não deveria ser assim, Mel. E lhe digo mais: você não vai mudar. Vamos ser práticos? Orgulhe-se de viver as coisas e as pessoas com essa verdade latente. Orgulhe-se até mesmo da decepção que isso lhe causa. Você percebe o mundo e as coisas ao seu redor de uma forma diferente e por isso sofre. Você sente as pessoas de uma forma diferente e por isso se decepciona facilmente. Mas o que seria a decepção se não uma das coisas mais necessárias dessa vida? A decepção é a prova dos 9 da imperfeição. Eu sei que você detesta coisas perfeitas e por isso lhe digo: entenda a decepção como o ponto que faltava para a imperfeição existir. Eu sei, eu sei que algumas decepções são doídas. Eu sei que batem em você como um tapa estalado em suas bochechas, mas você tem a capacidade de extrair o melhor. Se esquive, receba os tapas, dê seus pulos, mas entenda: até que você morra, sempre haverá uma decepção guardadinha para você.
Cada vez que você bater uma porta de uma história de amor, paixão ou qualquer coisa que o valha eu sentirei muito orgulho de você. Acredite. Eu serei quem mais se orgulhará da sua decisão porque vejo nos seus olhos de menina-mulher o querer. Sei o quanto é difícil para você deixar ir o que você gostaria de dar amor. Ao que me parece está na moda essa coisa de desapego, não é mesmo? Será que na prática acontece do jeito que as pessoas dizem? Não sei. O que eu sei é que você nunca conseguirá seguir modas, tampouco deixar de nutrir apego a alguma coisa. Essa é a verdade, Mel. Aceite. Ou se mate.
Por falar nisso, deixe eu lhe dizer uma coisa: você foi otária naquela última história. Otária mesmo. Encheu o peito e a cabeça de expectativas, recebeu incentivo de partes envolvidas e acreditou. Veja bem, eu disse que você foi otária, mas não me queira mal. Você foi otária por acreditar e nem eu, nem Deus, quiçá esses humanos que você se envolve podem te julgar. Você acredita nas coisas de um jeito que dá medo. Acredita tanto que até a levianidade alheia escancarada te engana. Otária, né? Relaxa. Tudo passa. O tempo resolve muita coisa e o mundo dá voltas. Nada mais será como antes. Você nunca mais será a mesma depois de todo esse quiproquó. Aliás, cê tá mais mulher, viu? Se apegue nisso e espere o carro de limpeza pública passar na sua rua. É, jogue o resto no lixo. Serve pra alguma coisa? Muda alguma coisa? Melhora sua vida? Enfeita seu quarto? Jogue fora, minha filha. É isso ou você vira uma otária deprimente ( o contrário do que você foi antes). E aí?
Você foi ridícula ao dar ao outro mais importância do que a você mesma. Ridícula. De uma forma que só os ridículos de amor são. Passou, baby. Volte para o seu lugar. Esse é um jogo de xadrez e você é o Rei. O jogo acaba quando te capturam, mas veja bem, aqui você decide se isso acontece ou não. Você é o Rei numa versão mais ostentosa e poderosa. Não esqueça disso de uma próxima vez. Ou esqueça e se ferre. Depois não diga que não lhe avisei.
Você foi ridícula ao dar ao outro mais importância do que a você mesma. Ridícula. De uma forma que só os ridículos de amor são. Passou, baby. Volte para o seu lugar. Esse é um jogo de xadrez e você é o Rei. O jogo acaba quando te capturam, mas veja bem, aqui você decide se isso acontece ou não. Você é o Rei numa versão mais ostentosa e poderosa. Não esqueça disso de uma próxima vez. Ou esqueça e se ferre. Depois não diga que não lhe avisei.
Não desista de ser muito amor, Mel. Nunca mais diga que gostaria de ser fria. Nunca mais queira sentir de menos. Nunca mais diga que não existe vantagem em ser de verdade. Pare de mentir para você mesma. Vai dizer que não quer mais viver com o coração estendido em uma das mãos? Você mente mal demais. Vai morrer sendo isso aí, viu? Desista. Deixe de ser besta, aceite a condição e viva. É corajoso ser assim. É fora do convencional. É bonito. É você. Ponto final.
Bom, finalizo essa carta esperando que você tenha entendido o que lhe disse. Não quero precisar escrever-lhe tão cedo. Se cometi alguma grosseria, perdoe-me. Não havia outra forma de ser. Se você quiser jogar essa carta fora eu não vou me importar. Problema seu. Se guardar será útil. Estarei sempre aqui, para quando você precisar. Não hesite em me chamar. Continue amando. E se chorar, beba as lágrimas.
Forte abraço, querida.
Ass: Sua Racionalidade.
Bom, finalizo essa carta esperando que você tenha entendido o que lhe disse. Não quero precisar escrever-lhe tão cedo. Se cometi alguma grosseria, perdoe-me. Não havia outra forma de ser. Se você quiser jogar essa carta fora eu não vou me importar. Problema seu. Se guardar será útil. Estarei sempre aqui, para quando você precisar. Não hesite em me chamar. Continue amando. E se chorar, beba as lágrimas.
Forte abraço, querida.
Ass: Sua Racionalidade.