Acho engraçado quando sou conceituada como uma pessoa doce. À parte as relações com o apelido dado por minha mãe, cuja doçura é imensa todo o resto é duvidoso. Sou chata. Tenho humor oscilante, cismo fácil e desconfio de quem não olha nos meus olhos. Pareço metida, poucas vezes faço questão de demonstrar o contrário e não deixo qualquer pessoa pisar no meu mundo. Na verdade, sou tímida. A extroversão só chega quando eu me sinto confortável o suficiente para sorrir leve, jogando a cabeça para trás. Mas no geral, sou tímida.
Tenho ciúmes estranhos. Quase nunca de gente, mas de coisas, sentimentos. Ciúme de um lençol, por exemplo. De uma música que eu acho que é minha e só minha. Dos meus livros,discos, filmes. Em se tratando de pessoas, só consigo ter ciúme da minha mãe e, ainda assim é coisa básica. No fundo eu até gostaria de sentir ciúme de alguém e dar uma mini-crise daquelas que resultam em amor quente entre quatro paredes. Acho que nesse sentido pode até ter vantagem. Ou não.
Quando gosto de alguém eu sou intensa. Da ponta do cabelo ao dedinho do pé. Nunca pela metade, nunca sem vontade. Eu gosto e ponto. Numa rapidez descomedida, em vários tons de vermelho e amarelo. Gosto com todas as letras, pontos, acentos. Com tudo o que eu julgo ser de direito. Nessa mesma cadência eu odeio. Sei maldizer qualquer amor, qualquer paixão dantes minha. Tiro todo doce pincelado com esmero e amargo o que sobrou. Jogo tinta cinza, arranco moldura, descolo detalhes, arranho discos, rasgo cartas. A mesma fogueira de amor é usada para o desamor. Porque eu só sei ser assim. Porque eu sinto muito e em frequências dissonantes. Se me afeta, eu reajo. Se não me afeta, eu ignoro. Azeda, doce, agridoce, mas eu. Muito eu.