sábado, 26 de janeiro de 2013

É azeda, mas é doce quando é doce.


Acho engraçado quando sou conceituada como uma pessoa doce. À parte as relações com o apelido dado por minha mãe, cuja doçura é imensa todo o resto é duvidoso. Sou chata. Tenho humor oscilante, cismo fácil e desconfio de quem não olha nos meus olhos. Pareço metida, poucas vezes faço questão de demonstrar o contrário e não deixo qualquer pessoa pisar no meu mundo. Na verdade, sou tímida. A extroversão só chega quando eu me sinto confortável o suficiente para sorrir leve, jogando a cabeça para trás. Mas no geral, sou tímida. 
Tenho ciúmes estranhos. Quase nunca de gente, mas de coisas, sentimentos. Ciúme de um lençol, por exemplo. De uma música que eu acho que é minha e só minha. Dos meus livros,discos, filmes. Em se tratando de pessoas, só consigo ter ciúme da minha mãe e, ainda assim é coisa básica. No fundo eu até gostaria de sentir ciúme de alguém e dar uma mini-crise daquelas que resultam em amor quente entre quatro paredes. Acho que nesse sentido pode até ter vantagem. Ou não. 
Quando gosto de alguém eu sou intensa. Da ponta do cabelo ao dedinho do pé. Nunca pela metade, nunca sem vontade. Eu gosto e ponto. Numa rapidez descomedida, em vários tons de vermelho e amarelo. Gosto com todas as letras, pontos, acentos. Com tudo o que eu julgo ser de direito. Nessa mesma cadência eu odeio. Sei maldizer qualquer amor, qualquer paixão dantes minha. Tiro todo doce pincelado com esmero e amargo o que sobrou. Jogo tinta cinza, arranco moldura, descolo detalhes, arranho discos, rasgo cartas. A mesma fogueira de amor é usada para o desamor. Porque eu só sei ser assim. Porque eu sinto muito e em frequências dissonantes. Se me afeta, eu reajo. Se não me afeta, eu ignoro. Azeda, doce, agridoce, mas eu. Muito eu. 

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Eu sou só sentir.

De todas as coisas imateriais que carrego comigo a que mais tenho orgulho é a minha intuição. É irmã da fé - uma outra coisa que abraço a cada minuto e agradeço por ter - e prima do coração. Daquelas bem próximas, quase que irmã também. Sempre que a minha intuição grita o coração abre uma das janelas pra ver atenciosamente o que está acontecendo, mas é a fé que me impulsiona a ouvir. E eu ouço mesmo. Me disponho a captar os sussurros que logo depois se mostram gritos. Minha intuição é sempre educada, mas ao seu modo. Doce, mas nem sempre. Ela é muito eu, na verdade. 
Quando eu ainda não sabia entender o que era intuir, o que queria dizer aquela sensação de enxergar além do visível as coisas pareciam sem sentido. Eram porque eram , seriam porque seriam e ponto final. Eu não entendia que não estava sozinha, por exemplo. Que além da materialidade do ser existia o invisível que eu enxergava e que, mesmo não podendo tocar me abraçava. Abstração demais para uma mente em formação. Mas aí o tempo foi passando, crescer pareceu inevitável. E a intuição sempre esteve lá. Às vezes me avisando que sair de casa não seria indicado, noutras me dizendo que uma faísca  poderia esconder uma fogueira. Ela não se engana. Ela não deixa eu me enganar. 
A minha intuição está tão em mim que sabe até mesmo me acordar - o que é raro na materialidade das coisas - e também me colocar para dormir. Me chama na madrugada para dizer que algo está acontecendo e depois me faz um cafuné enquanto me lembra que tudo se resolverá. No meio do dia ela me faz ouvir bem o que dizem e o que os olhos revelam. Porque falar é mais que emitir voz. Salta das pupilas sem que o emissor perceba. Tem que ter olhos para ver, coração para sentir e fé para acreditar. 
É percebendo que eu  abro um sorriso. Abraço forte, dou porções do meu amor. É também por perceber que eu viro tigresa e lanço minhas unhas negras. Nada passa e eu estou sempre pronta para me defender. O olhar denota que no mínimo eu sei demais sobre o que o outro não queria que eu soubesse. Noutras vezes, ao perceber eu corro rápido. Não olho para trás, não me importo com o semáforo. Me acertando, tropeçando e sabendo que não passarei do chão. É percebendo que eu fico quieta. Me recolho ao subterrâneo, me enrolo numa cama macia e deixo as coisas acontecerem. Que seja. É percebendo que eu vivo instantes e me delicio com eles. Sinto arrepiar os pelos do corpo e as ondas de calor causarem tremores na alma. As pupilas dilatam.  É por perceber demais que eu sou só sentir. Ainda bem. 

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Lá vamos nós outra vez em queda livre.



Nos minutos que antecediam o fim de 2012 eu não consegui focar o pensamento em nada. Á parte o fato de estar malemolente depois de tomar umas duas ou três latinhas de cerveja gelada, eu simplesmente não conseguia formar desejos para o ano que chegava, fazer mini retrospectiva do que ficou para trás, nada. Quando a contagem regressiva teve início eu estava mais preocupada em comprar mais umas latinhas de cerveja e que alguma música boa tocasse para me fazer dançar. Assim, sem fazer questão do resto. Sem pensar em nada.
E então, 2013 começou. Lá se vão 10 dias e eu tenho a sensação de que eles equivalem a pelo menos 4 meses. Já teve aniversário, mau humor, amor, desamor, querer, não querer, desespero, calmaria, crescimento, risada, cara séria, suspiro, abuso, apego, desapego. Muita coisa para apenas 10 dias. E o pensamento continua do mesmo jeito: sem morada, sem foco.
Quando vai chegando a noite calço um tênis, solto os cabelos, coloco o fone de ouvido em volume máximo e saio andando por uma das avenidas da cidade. O intuito é tentar desenvolver um pensamento ou, quem sabe, encontrar alguma coisa nova que mude tudo, que me seduza. Às vezes eu corro para sentir o sangue esquentar, noutras eu olho para o horizonte, meio que autista vendo o que os demais transeuntes possivelmente não conseguem ver. Às vezes bate um vento forte que brinca com meu cabelo e me faz fechar os olhos por segundos. É nesse momento, nesse espaço curto que eu lembro que sou apenas sentir. E que não pensar demais pode ser o caminho para receber surpresas. E, que certo mesmo estava o poeta quando disse que: " Mas é boa a sensação de estar caindo. É tentar relaxar e se deixar levar sem se debater. Assim eu vou descer em queda livre." E que mais certo ainda estava um outro poeta quando em uma das minhas danças com o vento cantou no meu ouvido e me fez sorrir: " Não tem gaiola que possa me segurar."
Eu tô com eles. Vou na bubuia.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Eu tô ficando velha, eu tô ficando louca.


Daqui a 1 dia e algumas horas eu faço aniversário. 6 de Janeiro foi a data escolhida para que eu chegasse ao mundo para fazer e contar minha história. Gosto da data, do fato de ser Dia de Reis, de ser em Janeiro e de ter nascido com a missão de ser capricorniana. Porque é uma missão quase impossível. Quando criança,  eu esperava ansiosamente pelo dia em que sairia para comprar roupas novas, ganharia mimos, doces, talvez - na verdade quase sempre - uma festa. Eu ainda gosto disso tudo, mas o tempo vai modificando o viver e algumas coisas simplesmente deixam de ser. E de acontecer.
Esse ano eu ainda não consegui conceber meu aniversário. Nada planejado. Talvez eu saia para comemorar. Talvez eu compre roupas novas. Talvez eu receba abraços queridos e esperados. Talvez eu fique de pijama o dia todo vendo algum seriado que me defina. Talvez eu corte o cabelo e me arrependa depois. Ou não. Talvez eu durma o dia todo e acorde descansada. Talvez, talvez, talvez. Não se trata de papinho de depressão oriunda do processo de envelhecimento, tpm, muxoxo, nada disso. Aliás, antes fosse qualquer coisa dessa. 
O fato é que habita em mim um vulcão sem data exata para erupção. E eu, sabendo da existência dele, sentindo seu movimento diariamente fico entre querer que ele adormeça mais um pouco e me aqueça, e que ele exploda de uma só vez queimando o que estiver frio, deixando cinzas coloridas no ar.  Quero explodir para dentro e para fora. No tempo, nas pessoas, nos momentos. Estou ansiosa pelo estrago. Quero dormir cansada de ter sido tudo que quis ser. Um fluxo constante. Quero acordar querendo mais. Indo buscar meus desejos. Quero beber dois goles de água como se estivesse recebendo um oceano inteiro. Com gosto.   Doce, salgado, azedo. Tanto faz. Quero dançar até sentir os pés latejarem. Suar quente e frio. Quero tatuar Amor no corpo. Para olhar todos os dias e lembrar do que me move. Quero dar abraços fortes todos os dias. Quero brigar por amor. Sem ódio, ou rancor. Brigar para amar. Quero rir do absurdo. Chorar do que é feito pra rir. Quero amarelo. Laranja, vermelho, lilás e anil. Quero quem foi, quem está, quem chegar. Por dias, horas, minutos, segundos. O instante.  Quero o que ninguém sabe. O que eu não sei, mas desconfio. O que poucos saberiam ter. O que eu sei que existe, mas que alguns custam a acreditar. Quero o que todo vulcão depois que nasce, cresce e ganha forças quer. 
Que seja.