segunda-feira, 13 de maio de 2013

Qualquer coisa dentro doida.


Passava das 3 da manhã quando a insônia fez um cafuné efusivo nos meus cabelos. Sempre que isso acontece eu penso em alguma coisa mística para fazer. Isso porque alimento a crença de que meu despertar no meio da noite não é por mero acaso. Despertei para despertar, para vislumbrar com óculos de lente lilás coisas que a luz do sol ofuscou durante o dia. Papo de gente esotérica. 
Lembrei que ainda não tinha lido o horóscopo do mês de Maio. Faço isso todos os meses religiosamente, acreditando no alinhamento dos planetas, na lua em Sagitário ou Escorpião e na influência disso na minha escolha entre almoçar  feijão e arroz ou comer um saquinho de jujubas numa quarta feira qualquer. Das quatro previsões lidas todas tinham um tema central que se repetia: amor.  
Segundo os astros o desenho da minha trajetória enquanto ser igualmente astral, mas habitante da Terra ,estava começando a ganhar traços sinuosos que lembravam um abraço. Da entrada na revolução solar, há uns 4 anos mais ou menos  desenrolei pelo menos 100 metros de um tear de linhas finas. Era preciso desfazer para por conseguinte refazer do jeito que bem me entendesse. Não estava proibido desfazer uma centena de vezes e refazer novamente. Eu só não poderia ficar parada. Teci uma colcha enorme que antes tinha um formato incerto, mas que agora parece um coração meio torto com braços abertos. As linhas de Saturno indicam o caminho da curva entre os montes que formam o coração. E não é que os astros estão mesmo certos? Nunca estive tão amor. Nunca senti tanto amor. Nunca quis tanto amor.
Rememorei os últimos acontecimentos, as últimas coisas ditas, feitas. Lembrei da sms mandada para Vitor depois de lembrar dele com uma saudade doída enquanto ouvia Marisa Monte tocar no rádio do ônibus. Lembrei da vontade imensa de abraçar minha mãe espiritual e deitar a cabeça no colo dela. E lá ficar. E lá morar. Lembrei do abraço de Lira, uma menina de uns 11 anos de idade que conheci no fim de semana retrasado. E quis ganhar aquele abraço de novo. Lembrei dos olhinhos de Juan, um dos alunos que tive e que me fazia chegar em casa chorando quase todos os dias. Porque eu queria cuidar e não podia. Queria fazer mais, bem mais e era impedida. 
Lembrei do "eu te amo" que Dudu me disse antes de sair para uma festa em que eu não quis ir. Nunca dantes aquela frase soou tão forte para mim. E eu quis ouvir de novo, sentir o agudo sonante do amor de irmão. Lembrei da expressão do rosto de Matheus quando lhe surpreendi com um mimo. O sorriso dele sem jeito que me fez rir . Deu vontade de dar vários outros mimos só para ver a mesma cena e sentir o querer bem novamente. Lembrei do email carinhoso escrito para um dos meu professores parabenizando-o pelo aniversário que não pude comparecer. Do abraço dado nele dias depois e da frase que ele me disse com uma entonação bonitinha : " Hellen, você é uma menina massa!".
Lembrei de Pietro batendo na porta do meu quarto na noite retrasada e dizendo que queria dormir comigo. Da risada gostosa que ele dá quando brincamos juntos. Do abraço apertado que dei em minha mãe e da alegria dela em comemorar o seu aniversário com a casa cheia. Lembrei de mais um tanto de coisas já vistas e sentidas misturadas as outras que eu ainda desconheço, mas que com certeza viverei. Parece louco dizer isso, mas a coisa está tão latente que estou botando para fora e engolindo de volta só para não desperdiçar. A quem julgo merecer e se destina a receber dou doses inadvertidas dessa minha ebulição sentimental. Ao resto olho de lado, dou um sorriso e deixo passar. Tanto faz. Tanto fez. Estou bem alimentada e protegida pelo que de melhor tenho.  E que assim seja e permaneça.