domingo, 28 de abril de 2013

Só dura em liberdade.


Em uma cena de filme real: 





- Sabe, eu só tenho medo de me tornar uma pessoa fria. Apenas isso.


- Acho esse risco mínimo. Você é amor. Mais do que supõe. Você não sabe o quanto tem, doa e transmite de amor.  Tem amor no seu olhar. Inclusive, foi por amor que você deu tchau, lembra? Você não se afastou da sua paixão porque é fria ou medrosa. Você se afastou dela porque você é amor. Desatou um laço, abriu mão, deixou ir, desapegou. Quer coisa mais amor que isso? E a vida é linda nesse sentido, meu bem. Quando ela demora de nos dar quem a gente merece ela dá umas paixões loucas, umas histórias sem pé nem cabeça, muitos amigos, momentos lindos. E a gente vai se segurando nessa esperança, seguindo firme. E se esse tal amor-Bethânia não pintar a gente olha pra nossa vida e vê que tem tanta coisa linda que ela vale assim mesmo. Porque a gente é amor. Porque enxergamos a vida através do amor.

Silêncio na sala. Lágrima na almofada lilás. Abraço de amor.


Próxima cena.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Das coisas que a gente descobre no meio do caminho.


Quando você começa a virar " gente grande" ninguém te avisa que  você vai mais  abrir mão do que receber.  Ninguém te conta que esse processo de dar e, quem sabe, com muita sorte receber é doloridinho. O problema é seu. A dor é sua. Se você ganhar alguma coisa bom, pode ser que ela  seja sua. Mas a verdade é que não existem mais certezas como a hora certa de ganhar o lanche ou de ir para escola. Tudo flui numa dinâmica própria. Você deve se adaptar.
Ninguém te explica o fundamento do não, mas te doa vários ás vezes falando na sua cara, noutras de boca fechada com um olhar ou uma ausência. Um sim pode até ser seu, mas um não toda vez em que você receber vai ficar entranhado de uma forma inesquecível. E, por mais que você já tenha recebido vários, o último sempre parecerá mais devastador. Mas ninguém vai se importar com isso por motivos de: todo mundo recebe. Por que você não receberia?
Não espere que o mundo entenda seus momentos mais frágeis. Foi-se o tempo em que você chorava e todas as atenções se voltavam para a sua pessoa. Você pode até chorar. Aliás, você deve chorar. Do contrário é infarto na certa. Mas a questão é que as pessoas ao seu redor estão deveras ocupadas experienciando suas vidas e, quem sabe, até mesmo suas próprias fragilidades. Logo, elas não possuem tanto tempo para cuidar das suas. Não é maldade, nem nada do tipo. É o correr da vida. Você precisa aprender a se virar.
Ninguém vai te contar que vez por outra você vai sentir vontade de fazer muxoxo e bater o pé, mas que vai ter que se conter. Pior: que banir esses gestos incomoda mais que calo nos pés por conta um tênis apertado. Você vai vivenciar momentos em que um muxoxo não resolveria, mas faria bem. Só que não vai poder fazer. E mesmo que faça escondido, não terá o mesmo efeito. Isso não cola mais. Ninguém se importa com seu muxoxo. Exceto você.
Você vai descobrir que São Tomé era, sempre foi e será o cara. Vai entender que promessa boa é a que se concretiza bem debaixo dos seus olhos. O resto é balela. Isso inclui as suas próprias promessas, dentre outras coisas ditas, afirmadas. Mais que isso, vai aprender a conviver com a não concretização do que se esperava. E vai doer. Porque decepção machuca, mas o bom é que  até hoje eu nunca ouvi dizer que mata.
Não espere que alguém te conte ao pé do ouvido que em certos dias você vai querer ter muita gente por perto, mas que ideal mesmo será ficar só. Ninguém te conta que suas escolhas não serão mais tão simples como decidir entre o algodão doce rosa ou lilás. Já era, meu bem. Pegue seu belo livro, uma xícara de chá, um cobertor e viva. Você também pode morrer se quiser, mas dá trabalho.
Ninguém vai te contar sobre as energias pesadas oriundas de pessoas que enxergam em você uma ameaça. É estranho falar dessa forma, soa pretensioso, mas é bem real. Você só compreenderá o que é isso quando observar mais as pessoas. É cansativo, mas é isso ou você viverá numa montanha-russa violenta. Energia tem força. As pessoas têm força. Você também. Só que ninguém te ensina a usar antes de você precisar ter.
Acostume-se com a necessidade de repensar o que já fez e o que poderia ter feito. Ao menos uma vez no dia você fará o desenho da sua trajetória em questão de segundos. Vai querer apagar, mas certo mesmo é deixar seu rastro. O que já foi não volta. É sempre para frente e, claro, para os o lados que se olha. Você vai entender a necessidade do daqui para frente. E se for muito sagaz nunca dará adeus. Em todas as vezes que tropeçar vai perceber que pode se sustentar em você mesmo para levantar, limpar os joelhos, respirar fundo e recomeçar. Porque crescer é um processo contínuo de subidas e descidas sinuosas e intuitivas. Ninguém te explica, ninguém te conta o segredo, tampouco esclarece suas dúvidas. A única certeza é que invariavelmente você aprende. E cresce.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Ainda bem que eu acordei.



Dia desses tive um sonho deveras estranho. Sonhei que estava apaixonada, imersa em um estado de graça que sublima qualquer rastro de razão e faz germinar vigorosos suspiros de emoção. Eu estava bonita, vistosa, como essas pessoas que saem rindo por aí sem motivo aparente, cantando músicas de melodia doce e vendo graça nas coisas mais sem graça que existem no mundo. Coisa bonita de se ver.
No sonho, o meu amor era misterioso e isso me fazia ficar ligada a ele de uma forma intensa. Às vezes perto, às vezes longe. Por vezes parecia meu, noutras de todo mundo. Mas eu permanecia dele. Mesmo ele não sabendo e quem sabe, até mesmo não querendo. Me ensinava que desapego deveria ser desmedido. Das coisas, das pessoas, dos momentos. Como um exímio professor de gramática, me ensinou a conjugar o verbo desapegar em todos os tempos. Quando eu parecia querer me afogar nos seus braços e morar no seu calor ele me reprimia e dizia solenemente: de-sa-pe-gue. E eu, como boa aluna, aprendia. Internalizei o verbo, os tempos, as sílabas, os fonemas. Aprendi.
De maneira doce ele me ensinou a ser fria e calculista. Dizia em linhas tortas  que amor de muito era bom, bonito, mas que poderia esperar. Que o relógio certo só tocaria a hora certa, no momento certo. E, claro, com a pessoa certa. Que empecilhos idiotas serviam para explicar falta de querer. E que não havia mal algum em usá-los sempre que fosse necessário. Que ser atenciosa não estava com nada e bom mesmo era deixar no vácuo.
Meu amor me ensinava que, na brincadeira de se envolver, quando o carinho fosse grande o suficiente para se tornar em algo tão pesado que precisasse ser doado, era hora de pedir dois autos. Assim, bruscamente. Friamente. Como quem decide que não quer mais dormir do lado direito da cama. E eu aprendia. Ditava no meu ouvido que tanto fazia estar ou não. Que depois não existia. Que o agora era importante em certa medida e que ontem eu nem deveria lembrar. Que fragilidades deveriam ser escondidas. Que carência até existia, mas que poderia ser resolvida de maneira objetiva. Que demonstrações de afeto eram bonitinhas, mas digamos, desnecessárias. No máximo serviam para rir ou resultavam em um " que bonitinho". Ele não entendia quando eu ficava desnorteada, indecisa. Apenas debochava. E eu, como boa aluna, aprendia que certo mesmo era fazer como ele ensinava.
Rindo sarcasticamente ele me ensinava a ser menos romântica. Sua didática consistia em debochar dos meus momentos  doces como forma de me dizer que nada daquilo valia a pena. E eu aprendia. No sonho, parecíamos cheios de afinidades. Ou melhor,um de nós queria que afinidades fossem o elo propulsor de quem sabe um amor. Era eu tirando os óculos para não ver que na verdade éramos opostos gritantes. De um lado querer demais, do outro querer de menos. Mesmo assim eu insistia. Bloqueei todas as minhas portas e janelas de querer. Nada entrava, muito menos saia. No sonho eu me tornava uma espécie de cria do meu amor. Eu era ele em fase de aprendizagem avançada. Fria,  distante, desapegada, calculista, impessoal, insensível, desfocada. Incapaz de dar e/ou receber amor. E, mais que tudo isso, covarde. 

Acordei sobressaltada. 

A respiração ofegante, o coração acelerado e a necessidade de concatenar as ideias de forma rápida e precisa para que ficasse claro que tudo aquilo não passava de um sonho. Ou, quem sabe, um pesadelo. Coloquei as duas mãos na cabeça no intuito de me situar no tempo. Quis ler Freud e encontrar um significado para aquele sonho. Não era eu. Jamais poderia ser eu. Não há a menor possibilidade de um dia eu ser tudo aquilo que o meu sonho projetava. Lavei o rosto com água gelada, me olhei no espelho por alguns minutos. Nem nascendo de novo eu seria daquele jeito.  Andei pela casa no escuro dando passos pesados enquanto repetia internamente que tudo aquilo não tinha passado de um sonho. Voltei para o quarto, peguei o celular para ver as horas, mas instintivamente fui direto na pasta de músicas. Busquei a que me interessava, deitei no travesseiro, coloquei a música para tocar baixinho e adormeci entoando para mim, para o tempo, para as pessoas, para o universo que não importa quem esteja comigo ou onde eu vá. Eu sou romântica. Me alimento de suspiros e dengos. Não sei medir querer e acho mesmo que quem mede não sabe sentir, tampouco viver. Ainda acredito nas pessoas, nos sentimentos, no destino, no músculo involuntário. Tenho em mim a sede de  amar. No tempo, no momento, no instante, no milésimo de segundo que passa ao piscar dos olhos. Eu sou amor da cabeça aos pés. E isso nunca vai mudar. 

sexta-feira, 19 de abril de 2013

E o que não foi não é.





Engoli seco o que eu tinha para falar. Desceu rasgando os meus caminhos, inflamando internamente as paredes do mundo que você não conhece. Que nem eu conheço direito, para falar a verdade. Fechei os olhos, respirei bem fundo, olhei para você, tentei balbuciar uma ou outra palavra. Não deu. Não vai dar. Não foi, nem será. Deixa estar. É que mesmo eu querendo muito dizer e tendo tomado coragem para fazer isso, você simplesmente não quis escutar. 

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Que uma nova mudança em breve vai acontecer.





Ontem quando eu fui dormir me peguei pensando no tanto de coisas que já fiz em 2013. No tanto de coisas que já fui, que quis ser e me conti, que gritei, que calei, que ri. É divertido perceber que em 4 meses eu já experienciei uma pá de sensações e que elas são apenas a pontinha de um iceberg imenso que quero dissolver. Suave.
Quando acordei hoje pela manhã parei na frente do espelho e olhei para o meu cabelo ainda bagunçado. Desde que eu decidi cortá-lo, há alguns dias não sou mais a mesma. Para além da mudança visual, estética, não me sinto mais a mesma. Me vi numa foto de um mês atrás e não reconheci a menina de agora. Ficou para trás um tanto que eu não saberia quantificar.  É complexo explicar a sensação de não ser mais o que sempre foi com base em um cabelo. Soa fútil para os desatentos. Contudo, sempre que eu quis que uma coisa nova acontecesse na minha vida, eu mexi no meu cabelo. A intenção era concretizar a mudança. Acordar, tomar banho, me olhar no espelho e não ver mais a mesma. Outra. Um mundo de possibilidades. 
Eis que hoje, quando eu ainda constatava alguns traços de uma suposta mudança que se embaralhava ao que eu fui outrora, o telefone tocou. Era o convite para uma possível mudança. Como quem já esperava pelo chamado e o queria de forma intensa eu apenas disse "sim". E vou. E deixarei. E serei. E voltarei. Porque é de fluxos sinuosos e abundantes que sou feita. E nada, nem ninguém pode me amarrar.

" O que não disseram é que voltei diferente e que o meu agora é daqui pra frente. Nada me amarra. Passado é propulsão. Todos meus caminhos começam com o pé no chão."
 Ludov

terça-feira, 2 de abril de 2013

Carta sem endereço.

Querido George,

Escrevo essa carta para contar-lhe o que me aconteceu na noite passada. Pode ser que você não entenda metade do que  essas linhas dizem, mas mesmo assim achei por bem lhe enviar. Não se assuste, não se compadeça, tampouco queira responder. Não se faz mais necessário que me diga uma ou duas palavras sem sentido para parecer simpático e atencioso. Apenas leia. Ou não. Se preferir fazer dessa carta uma bolinha de papel para ser arremessada na lixeira, como num jogo de basquete, fique à vontade. Eu já conheço sua forma de brincar com as coisas e elas não me incomodam mais. Acho até que são apropriadas para você. No mais, de uma forma ou de outra o conteúdo aqui exposto chegará até você.

Pois bem, despertei no meio da noite com falta de ar e um incômodo na garganta. Não era vontade de chorar, de gritar ou de desabafar o que eu estava sentindo. Bebi dois goles de água e nada mudou. Permaneci sentindo a sensação estranha e aparentemente infindável.
Sentada na beira da cama, em meio ao escuro do quarto fitei o chão. Parecia imenso, incerto e gelado como o mar. Por instantes consegui sentir até mesmo o cheiro da maresia e a brisa que prenuncia o ir e vir das coisas. O deixa estar e o deixa ir. A água que outrora havia bebido inundou meu corpo, molhou meus cabelos e me fez fechar e abrir os olhos com força. Enxerguei ondas no chão do meu quarto. Indo, vindo, deixando, levando. Marolas que encostavam nos meus pés com meias. 
O incômodo na garganta crescia na intensidade das ondas que, a essa hora, já batiam no meu joelho. Em alguns minutos eu estaria submersa no mar que invadiu meu quarto e aparentemente não havia muito a ser feito. Decidi pular. Com as pernas entreabertas olhei para o fundo do mar e senti os pelos do corpo arrepiarem. 
Quando vi a minha imagem refletida na água,  não pude evitar: vomitei você. Pernas, braços, cabelos, olhos, boca. Você. Coloquei para fora o que estava morando dentro de mim durante um bom tempo e que, só agora se tornara incômodo. Doeu cuspir o último fiapo , mas não porque eu queria que aqui ficasse. Ao te vomitar, ao colocar para fora você e tudo o que representou  eu também vomitei um pouco de mim. Lá se foi junto com você uma parte do que eu acreditava. Dói mais desacreditar do que te deixar ir. Dói mais não conseguir chorar, depois de tantas lágrimas involuntárias, do que saber que chegou o fim. Dói bem mais perceber que deixei de carregar metade da doçura de quem se doa sem pensar, do que lembrar que nunca mais trocaremos palavras afetuosas. Não é mais você, tampouco eu. Dói não saber quem será e se eu deixarei ser.
Contudo, é inegável o alívio que sinto. Embora você tenha levado um pouco de mim, e até então nem soubesse disso, me alivia perceber que nada de você ficou por aqui. Vomitei até o que eu não sabia que existia. Acabou, querido. Uma das ondas mais violentas levou para bem longe a última coisa que você me disse. Me esforço para lembrar, mas sem sucesso. É uma pena. Um dia, quem sabe, consiga rememorar tudo o que vivemos com aquele mesmo olhar de antes. Aquele olhar que você dizia gostar. Mas, por enquanto, é isso. Te cuspi no mar, querido. E, sabendo que as ondas levam e deixam coisas, contrariando até mesmo o tempo , não me iludo. Pode ser que nos encontremos novamente. Pode ser que uma brisa nos entorpeça e afete nosso querer. Ou não. Tanto faz. Indo, vindo, deixando ou levando nada será como antes.  Creio que você pouco se afete e possivelmente nem mude. Mas eu, meu caro, jamais me deixarei ser com você o que fui outrora. É uma pena, mas finalmente entendi que você não vale a pena. E te vomitei.

Até outro dia. Fique bem.

Com amor,

Lucy.