sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Tocaia.



Sem retrospectiva. Sem reflexão. Sem adeus. Quando 2013 acabou eu nem vi, nem senti. Muito embora tenha sido o ano mais intenso de toda minha vida, eu não sei dizer qual foi o sentimento exato que norteou a passagem entre um ano e outro. Não fiquei para ver. Meti um batom vermelho na boca, soltei meus cabelos, peguei meu copo de cerveja e sai.
Lá se vão quinze dias desse novo ano e tudo se mostra contrário ao que foi antes. Tenho falado pouco, quase nada. Estou rouca, mas meu silêncio é natural. Só falo quando quero. Com quem quero. Minhas cortinas de cílios abrem e fecham vagarosamente enquanto eu apenas observo as pessoas, a vida, o tempo.  Quando o exercício de observar me parece cansativo eu fecho as cortinas e durmo, como uma boa preguiçosa que sou.  
Não estou conseguindo fazer planos. Se me perguntam o que espero para amanhã eu não tenho resposta, tampouco me esforço para ter. Deixo tudo como está. Tenho respeitado muito as minhas risadas e mais ainda as lágrimas que outrora derramei e que hoje só aparecem em um bocejo. Não tenho pensado muito. Estou desprezando a lógica, posto que criei a minha e essa não se enquadra. É circular. Todas as minhas reações seguem o momento, o segundo do instante. Só me interessa o que me afeta. No que tem chegado  em mim com força eu dou beijo de língua. Quente. No restante, um aperto de mão. Frio.
A minha intuição está mais aguçada. Uma flecha rápida e certeira que chega no alvo com força e destroça o centro da coisa. Desprezo o semáforo. Só acredito na minha intuição. É ela quem me diz que muito está para acontecer nos próximos dias e que a surpresa será minha visita constante. Não anseio em saber. Me espreguiço no tempo. Como uma onça deitada à sombra em uma grama verde e úmida eu apenas observo e deixo ser. A natureza tem seu tempo. Fito minhas unhas vermelhas, mexo nos meus cachos bagunçados, canto uma música qualquer, danço no meu ritmo, estalo os ossos, suspiro devagar. Vivo. Sinto. 
Quando chegar o momento não será preciso pensar muito. Serena, intuitiva e silenciosa vou levantar do meu conforto, correr em direção ao alvo e come-lo com mãos, boca, língua, dentes e alma. Lasciva. Voltarei para meu lugar com bochechas, colo e pernas lambuzados. Rindo por dentro, brilhando por fora. Satisfeita, mas não menos atenta. Como uma onça.